Um dos textos mais
coerentes que já li. Grande Zeca baleiro
Opinião: Um Voto Crítico,
Mas Convicto
O direito à oposição e o
anseio pela alternância de poder são pressupostos básicos de um estado
democrático. Desejar e acalentar o sonho de mudanças também é uma natural
aspiração de todo cidadão.
Acho o governo Dilma
criticável, como todo governo o é. Acho o PT criticável também, como todos os
partidos o são. Como todo brasileiro, anseio por mudanças que urgem, embora
reconheça que há mudanças políticas em curso neste governo que são louváveis.
De qualquer modo, embora Dilma tenha seus pontos vulneráveis, não vejo
adversário digno de sucedê-la. Mudar por mudar não me parece conveniente. Um
dos argumentos mais usados pelos detratores da atual presidente e seu partido é
o de que “estão há muito tempo no poder”. Esquecem que os tucanos há 20 anos
ocupam o trono do governo de São Paulo (e há tempos vêm cometendo pecados sem
perdão como o desmando irresponsável que gerou a crise de abastecimento de água
no estado), isso sem falar nas oligarquias do Maranhão, há 48 anos roendo o
osso do poder, e a de Alagoas, há outros tantos anos se perpetuando na política
local (e estes casos nem devem ser levados em conta, pois, além de
antidemocráticos, são imorais).
Um governo comprometido
socialmente deve dirigir o olhar primeiramente aos desfavorecidos, aos
excluídos do jogo social, isso é óbvio. Este governo que aí está fez isso. E o
que não faltam no Brasil são pessoas vivendo em quadro de pobreza extrema,
privadas dos direitos básicos de cidadão, massa de manobra barata para oligarcas
usurpadores. Quando o buraco é muito fundo – e o fosso social no Brasil é pra
lá de fundo -, não há como não ser assistencialista, infelizmente. Uma das
frases feitas que mais me indignam neste pobre debate político (debate entre
aspas) é a máxima hipócrita de que “é melhor ensinar a pescar do que dar o
peixe”. Ora, como ensinar a pescar um sujeito devastado pela fome e pela
doença?
Outro argumento usado à
exaustão é o da corrupção, e não podemos nos enganar - todos os partidos,
quando ocupam o poder, caem em tentação, para nossa desgraça. A diferença
básica neste Fla-Flu de corruptos é que os do PSDB seguem impunes, os do PT nem
tanto. Só a punição exemplar desses bandidos somada à vigilância social mais
ferrenha poderá fazer banir esta "cultura da corrupção" que hoje
impera no país, ou ao menos reduzir os seus índices.
Não sou petista nem sou
apegado a partidos ou candidatos. Voto com independência. No primeiro turno,
meu voto foi dividido entre candidatos do PSOL, do PSB e do PT. Isto me parece
coerente. Se nos próximos anos aparecer uma grande e confiável liderança
política de outro partido, não hesitarei em mudar meu voto, desde que seu
projeto tenha viés socialista, único projeto político que penso ser viável no
mundo de hoje. Isto também me parece coerente.
O que não me parece
coerente é ver a ex-candidata Marina Silva, arauta da “nova política”,
anunciando seu apoio à candidatura Aécio Neves. Todos sabemos que a sua
trajetória de luta contra os barões malfeitores do Acre a aproxima
ideologicamente mais do PT, e não foi à toa que ela assumiu a pasta do
Meio-Ambiente no governo Lula. Isto que ela agora faz é velha politicagem,
jamais nova política. Sabemos para onde miram os políticos do PSDB, e no que
vai resultar um novo governo tucano (e faço questão de afirmar o mesmo repúdio
às alianças eleitoreiras do PT com velhos caciques paroquiais como Sarney,
Collor e Calheiros).
Se a intenção de parte do
eleitorado era destronar o PT e Dilma a qualquer custo, então que votasse num
partido mais à esquerda (sim, eles existem) e não num partido que reza na
cartilha do datado neoliberalismo que levou à convulsão social e ao desemprego
massivo países europeus sólidos como França e Espanha, e que quase levou o
Brasil à bancarrota, na era FHC. Este, por sua vez, sociólogo pós-graduado na
Universidade de Paris, tem como hobby disparar frases infelizes, como a recente
declaração preconceituosa e separatista sobre os nordestinos e seu voto,
segundo ele, catequizado. Com todo o respeito que possa merecer, o ex-presidente
está na Idade Média da Sociologia. Avançamos muito nos últimos anos em termos
de “pensamento social”. Não há porque retroceder.
Votarei em Dilma e, caso
ela seja eleita, terá em mim um crítico implacável de seu governo. É assim que
entendo o que chamam de democracia. O resto é balela.
P.S.: Peço aos internautas
que queiram comentar, criticar ou divergir do meu texto, que o façam
civilizadamente, com argumentos embasados, não com ofensas ou baixarias. De
baixo, já basta o nível do debate dos nossos candidatos na corrida eleitoral.
Zeca
Baleiro
(17 de outubro de 2014)
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