quarta-feira, 5 de setembro de 2012


Coisas bobas

Acessei por acaso o blog “Coisas Bobas” e, confesso, há tempos não lia um texto jurídico tão bem escrito, destes que uma criança recém-alfabetizada é capaz de ler e entender, mesmo versando ele sobre a profusão de nomes que no Brasil são dados ao ofício de advogar na esfera pública: promotores de justiça, procuradores de justiça, procuradores da república, procuradores do trabalho, procuradores federais, procuradores da fazenda, procuradores do banco central, advogados da união, advogados da caixa, do banco do Brasil, dos correios, ufa!

Apenas um nome de mulher fecha o magnífico texto: Giorgia, certamente uma low profile, coisa rara num meio em que a vaidade muitas vezes intercepta a órbita da Estação Espacial, mesmo que o vaidoso autor descortine pro mundo um incompreensível tratado sobre a influência do galho seco na sexualidade do macaco
.
O magnífico texto é um retrato sem retoques da advocacia pública brasileira. Ao ver a profusão de nomes dados aos seus servidores advogados, uma comparação me veio à mente, embora agnóstico que sou: a Santa Madre Igreja Católica, Apostólica, Romana e os seus papas, cardeais, arcebispos, bispos, monsenhores, cônegos, freis, frades, curas, vigários e padres, todos com uma única missão institucional: celebrar missa!
A vaca sagrada da Santa Madre caminha para o inevitável brejo, haja vista a acentuada perda de fiéis aqui e em todo o mundo. E a profana da Advocacia Pública?

Aí algo coça em minha ignorante cachola, pois não sei se transcorridos tantos anos desde o advento de nosso cartapácio constitucional ainda resta tempo para manejar contra o ministério público federal uma ação de busca e apreensão, visando a restituição do nome que, de cambulhada, foi levado junto, quando os parquets federais perderam sua porção de procuradores e se restaram tão somente promotores da justiça federal.

Talvez por esquecimento dos constituintes, a banda insigne partinte rumo ao Ministério Público Federal não apenas afanou o nome da banda insigne ficante, como se livrou do apodo “federal”, que conosco ficou, trocando-o para o da “da República”, por certo bem eufônico à época, apesar da bagunça reinante em repúblicas estudantis, como de resto na nossa própria!

Pra mim nem cheira nem fede ser federal, da união, de estado ou ser da república! Há quem diga até – e com certa razão- que para sermos federais teríamos que procurar também nos Estados, nos municípios e no Distrito Federal, tão donos da federação quanto a parte governada por Dona Dilma. Como só procuramos em seu feudo chamado Governo Federal, os linguarudos acham mais apropriada a denominação Procurador do Governo Federal.

Uma expressiva maioria, no entanto, quer o apelido de Procurador ou Advogado de Estado e almeja até que as unidades da federação que levam o mesmo nome deveriam retornar à condição de províncias, o que, na prática, todas são! Dos pobres advogados privados que ralam umbigos em balcões da justiça, uma parte de nós, insignes ficantes, açambarcou o nome “Advogado” e ainda tascou em sua frente a palavra “União”, esse balaio em que se mistura todo mundo de todos os níveis e esferas!

Culpa de Deodoro e seu bando, diria o meu amigo Roberto! Não tivesse ele sido posto no dorso daquele pangaré e obrigado a proclamar a República, seríamos todos Procuradores Imperiais e com direito a título de conde (os da classe especial), visconde (da intermediária) e barão (os fraldinhas), mas ainda assim apareceria alguém para defender como mais bonitos os títulos de arquiduque, duque ou marquês!

Como é no município (não no Estado, na Federação, na União ou na República) que se nasce, padece e morre, antes andando por ruas esburacadas, sem saneamento, escolas, postos de trabalho, o populacho não tem a mínima ideia dessa barafunda financiada com os seus impostos!


Uma temeridade as verdades que escorrem do blog “Coisas bobas”!

  

Nenhum comentário:

Postar um comentário