segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

Eita falta de assunto

Arroba, para mim, sobretudo criança na loja do meu pai, era a soma de vários pesos de ferro pendurados numa descomunal balança (quinze ou dezesseis quilos),onde bandas de porcos e outras mercadorias eram pesadas. Nem imaginava que el@ tivesse um símbolo próprio, coisa que só percebi quando do surgimento dos correios eletrônicos.
O mesmo se deu recentemente com o símbolo #, que os brasileiros e portugueses chamam de jogo da velha, grade, cerquinha, cerquilha, cardinal, sustenido, cauabanga, porteirinha, tralha, trama, caprino, malha, mosca, lasanha, chiqueirinho, cruzadinha, moiteiro, os eruditos octotrorpe, mas resolveram substituir todos eles por hashtag, numa prova de nossa crônica submissão aos americanos & Cia.
Não que eu seja contra a Língua Inglesa, mesmo porque tomo red, como bife, visto jeans, calço tênis, adoro rock, reggae, jazz, tenho um PT Cruiser e um Gold Retriver, adoro Nova Iorque e estarei em Londres no meio do ano. Mas, ainda assim, acho que a nossa Língua Portuguesa-Índigena-Africana-Italiana-Espanhola-Alemã-Japonesa-Árabe-Chinesa-Coreana-Guatemalteca é mais do que suficiente para nominar tudo o que deva ser nominado, sem exagerarmos no uso do inglês.
Também não concordo com os que torcem narizes por conta de nomes próprios ingleses ou que querem os imitar, em sua profusão de “kK”, “WW” e “YY”, quase sempre sufixados em “anny”, “eymmar” e por aí afora. Acho boa parte deles bonita, eufônica e, muitas vezes, reveladora da personalidade de seus portadores.
Outro dia, no entanto, encontrei um aqui no Face, uma variação de Kattya+Sephora, que soou em meus ouvidos como “Catapora”. Esperei a ampulheta girar, certo de que veria uma moça de rosto crivado de buraquinhos, mas me encantei quando pintou na tela uma pintura de mocinha.
Como as aparências, nomes também enganam, que o diga a Graça Foster!
Se inteiramente só e abandonado numa  ilha deserta, a mim me bastaria um dicionário, quiçá algumas centenas de caixa de red e eu certamente não seria tomado pelo tédio. Tenho vários e, ao menos uma vez por dia, os leio prazerosamente, pulando aleatoriamente de página em página, verbete em verbete. Raramente principio a minha viagem com alguma ideia na cabeça, pois ajo feito um andarilho zanzando a esmo. Só paro quando me empanturro de tantas palavras, que lentamente vou ruminando no decorrer do dia, as excretando, ejetando, evacuando, ejaculando, estravasando, refugando, parindo, vomitando, mijando ou cagando em prosa ou verso.
Em 2012, adquiri um tesouro editado pela Lexikon, o Dicionário Analógico da Língua Portuguesa – ideias afins/theasaurus, do professor Francisco Ferreira dos Santos Azevedo, cuja segunda edição só veio a lume sessenta anos depois da primeira, numa prova de quão alérgicos à cultura somos.
A segunda edição é apresentada por um senhor de nome Francisco Buarque de Hollanda, que, desde menino, eu sabia compositor de cantigas, as mais belas e inspiradas, também escritor, mas que, nem de longe, eu imaginava portador da mesma doença que me acomete: o gosto por dicionários!
Chico herdou, adquiriu, auferiu, ganhou, obteve, capturou, catou, coletou, logrou, arranjou, conseguiu, recebeu o tal dicionário do senhor, seu pai Aurélio Buarque de Hollanda e revela em sua saborosa apresentação que muitas das canções que compôs brotaram do velho livro do professor Ferreira.

Vale a pena ter um em casa!
Miniconto 4


Por aquele tempo eu não conseguia distinguir pneu de motor, mas mesmo assim ela me pediu para que eu fosse à sua casa para colocar em funcionamento a sua velha motocicleta. Aliás, nos dias que antecederam tal convite, ela não parava de chamar de imprestável e preguiçoso o senhor seu marido, um tipo que eu conhecia de vista, mas que me parecia muito mau e perigoso. Lá fui. No fundo de sua garagem, em meio a cadeiras velhas, eletrodomésticos pifados e um sem fim de quinquilharias, custei a enxergar a velha Monark ali encostada. Assim que a vi, notei desconectado um cabo de sua ignição. Mas quando já me prontificava para ligá-lo, ela puxou-me violentamente pela mão e, candidamente, foi me conduzindo para o interior da casa, dizendo-me que iria preparar um café. Antes, porém, resolveu mostrar-me todos os aposentos. Quando chegamos ao seu quarto, um susto! Ela simplesmente derrubou-me sobre a sua cama e começou a fazer comigo todo o tipo de coisas que não devo revelar aqui. Mas cismei que o senhor seu marido estava chegando, dei um salto pela janela, num segundo cheguei á garagem, conectei o cabo de vela, dei partida na moto e me mandei, arrastando a sua meia-calça presa à fivela de meu cinto! Ao chegar de volta ao trabalho, vi à porta estacionado o quão temido marido, impaciente e à espera dela, que gentilmente me agradeceu pelo conserto da moto, me gratificou e ainda me ajudou a desengarranchar da fivela de meu cinto a peça íntima de sua digníssima esposa, pedindo-me que a perdoasse por tamanha displicência.




Pesadelo 

Ontem, a minha querida amiga Dionne me disse que o termo "Excelência" veio dos imperiais Procuradores da Coroa, atualmente Procuradores da Fazenda Nacional.
 
Fiquei com aquilo na cabeça e o misturei com o notívago amigo escocês, Sua Excelência o Dr. J. Walker e acabei de acordar de um pesadelo em que o governo transformou os PFN em P-CDF: PROCURADORES DA COROA DILMA ROUSSELF -
 
No pesadelo, capitaneados por Luciano Hadad, Souto, Jorge e Allan Titonelli, todos metido
s em casacas coloridas, meias três quartos, sapatilhas nos pés e perucas brancas na cabeça, marcharam no domingo de Carnaval pela Esplanada dos Ministérios, protestando contra a Coroa Dilma.
Alguns os confundiram com foliões indo para o Bloco do Pacotão. Outros, com monarquistas defendendo a revogação da Proclamação da República e houve até um que pensou que fossem travecos, daqueles que ficam pras bandas do Banco Central, que se esqueceram de ir embora antes de raiar o Sol.
Eles não paravam de bradar "Fora Dilma", "Devolva o nosso título", "Não à fusão das carreiras", quando, às carreiras, cruzaram com meia dúzia de protestantes do impeachment de Dilma, bombeando petróleo no interior das cúpulas do Congresso Nacional, nas quais enfiaram dois grandes pavios, feitos com a gigantesca Bandeira Nacional, arrancada na lateral norte da Praça dos Três Poderes.
E aí o pau quebrou, pois quando a patuleia que não gosta de procuradores, de pagar impostos e muito menos de procuradores da receita federal, soube o que Dilma havia feito com eles, começou a gritar: "Fica Dilma", "Ferro neles!!!"
Graças a Deus, o pesadelo terminou quando eu, fantasiado de Carmen Miranda, vindo do Galinho de Brasília, fui confundido com eles e quase morto pelos black blocks. Que alívio, Deus meu!!!



Coisas bobas 

Acessei por acaso o blog “Coisas Bobas” e, confesso, há tempos não lia um texto jurídico tão bem escrito, destes que uma criança recém-alfabetizada é capaz de ler e entender, mesmo versando ele sobre a profusão de nomes que no Brasil são dados ao ofício de advogar na esfera pública: promotores de justiça, procuradores de justiça, procuradores da república, procuradores do trabalho, procuradores federais, procuradores da fazenda, procuradores do banco central, advogados da união, advogados da caixa, do banco do Brasil, dos correios, ufa!
Apenas um nome de mulher fecha o magnífico texto: Giorgia, certamente uma low profile, coisa rara num meio em que a vaidade muitas vezes intercepta a órbita da Estação Espacial, mesmo que o vaidoso autor descortine pro mundo um incompreensível tratado sobre a influência do galho seco na sexualidade do macaco
.
O magnífico texto é um retrato sem retoques da advocacia pública brasileira. Ao ver a profusão de nomes dados aos seus servidores advogados, uma comparação me veio à mente, embora agnóstico que sou: a Santa Madre Igreja Católica, Apostólica, Romana e os seus papas, cardeais, arcebispos, bispos, monsenhores, cônegos, freis, frades, curas, vigários e padres, todos com uma única missão institucional: celebrar missa!
A vaca sagrada da Santa Madre caminha para o inevitável brejo, haja vista a acentuada perda de fiéis aqui e em todo o mundo. E a profana da Advocacia Pública?
Aí algo coça em minha ignorante cachola, pois não sei se transcorridos tantos anos desde o advento de nosso cartapácio constitucional ainda resta tempo para manejar contra o ministério público federal uma ação de busca e apreensão, visando a restituição do nome que, de cambulhada, foi levado junto, quando os parquets federais perderam sua porção de procuradores e se restaram tão somente promotores da justiça federal.
Talvez por esquecimento dos constituintes, a banda insigne partinte rumo ao Ministério Público Federal não apenas afanou o nome da banda insigne ficante, como se livrou do apodo “federal”, que conosco ficou, trocando-o para o da “da República”, por certo bem eufônico à época, apesar da bagunça reinante em repúblicas estudantis, como de resto na nossa própria!
Pra mim nem cheira nem fede ser federal, da união, de estado ou ser da república! Há quem diga até – e com certa razão- que para sermos federais teríamos que procurar também nos Estados, nos municípios e no Distrito Federal, tão donos da federação quanto a parte governada por Dona Dilma. Como só procuramos em seu feudo chamado Governo Federal, os linguarudos acham mais apropriada a denominação Procurador do Governo Federal.
Uma expressiva maioria, no entanto, quer o apelido de Procurador ou Advogado de Estado e almeja até que as unidades da federação que levam o mesmo nome deveriam retornar à condição de províncias, o que, na prática, todas são! Dos pobres advogados privados que ralam umbigos em balcões da justiça, uma parte de nós, insignes ficantes, açambarcou o nome “Advogado” e ainda tascou em sua frente a palavra “União”, esse balaio em que se mistura todo mundo de todos os níveis e esferas!
Culpa de Deodoro e seu bando, diria o meu amigo Roberto! Não tivesse ele sido posto no dorso daquele pangaré e obrigado a proclamar a República, seríamos todos Procuradores Imperiais e com direito a título de conde (os da classe especial), visconde (da intermediária) e barão (os fraldinhas), mas ainda assim apareceria alguém para defender como mais bonitos os títulos de arquiduque, duque ou marquês!
Como é no município (não no Estado, na Federação, na União ou na República) que se nasce, padece e morre, antes andando por ruas esburacadas, sem saneamento, escolas, postos de trabalho, o populacho não tem a mínima ideia dessa barafunda financiada com os seus impostos!

Uma temeridade as verdades que escorrem do blog “Coisas bobas”!
Conto 3
A Navalha 


Que mulher tarada, aquela, a do barbeiro! Ela simplesmente me encurralou entre a copa e a cozinha e ali tentou me seduzir impiedosamente, enquanto o seu digníssimo marido aguardava o meu retorno do banheiro. Tentando me refazer do susto, voltei naturalmente à cadeira e ele, calma e pacientemente, atou em meu pescoço as tiras da toalha, ajustou o suporte de cabeça e pincelou suavemente o meu rosto com a espuma de barbear. À meia distância, pelas costas do sujeito, a maldita mulher mandava-me beijos e mais beijos, mas assim que ele levantava as vistas, amolando aquela afiada navalha, ela, refletida no espelho, tomava uma postura de sonsa e santa. Trazia comigo um livro do Gogol e o lia justo na parte em que é cortado o nariz do assessor do juiz do colegiado eleitoral. Mas de repente, senti que o roçar de sua navalha sobre o meu pescoço era cada vez mais firme e forte. E ele balbuciava palavras como safada e sem-vergonha, enquanto a afiada Solinger cortava-me feito foice. No que ele virou para limpar o pincel, eu me mandei a tempo de escutar ele dizer: - Cadê o desgraçado? e ela responder: - Foi-se!
Como cuidar bem da mulher do chefe
E, com isso, obter promoção  


Um livro de auto-ajuda para melhorar as relações entre chefes e subordinados
C.D.MotaCoelho
Minifácio
Salvo por algum resquício perdido em minha memória, todos esses minicontos são fruto da minha imaginação, sã ou malsã. A maioria não corresponde nem de longe a situações por mim vividas, assistidas ou que delas tomei conhecimento. De uma parte, confesso, fui agente, paciente, assistente ou ouvinte. De outra, ínfima, os fatos se desenrolaram tal qual eu os conto. Aliás, se ínfima não fosse, mentiroso eu seria, pois nem Don Juan conseguiria chegar a tanto! Três deles, no entanto, eu os reconto, pois os pesquei no vasto repertório que circula de boca em boca ou nas páginas da internet.
Introdução
Contos por alguns contos
Por que me meti na pornografia?

Pio, casto e fervoroso congregado mariano e irmão do Rosário, eu também era razoável escritor de hagiologias, homilias e sermões, quando recebi um inusitado convite para escrever contos em uma revista de mulher pelada. Num primeiro momento, titubeei ao me ver ardendo nas chamas do inferno. Eu vivia num crônico apuro financeiro, pois o cônego era um pão-duro e nem todos os noivos me pagavam pelas aulas preparatórias que eu, casto, solteirão e aluno de Seu Levy, ministrava. Fui ao cônego tentar um ordenado fixo, mas ele apontando para mim o versículo, dedo em riste, assim leu: “Ganharás o pão com o suor do teu rosto.”, dando-me a entender que o que eu fazia era por devoção, não por profissão. Ele, com muxoxos e esgares, ainda criticou em mim a mania de repetir em meus textos a frase “certo dia, todavia”. Achei aquilo tudo um desaforo, mas fiquei aliviado ao folhear outra parte do livro sagrado onde li que o Rei David foi direto para o céu, mesmo tomando e transando com Betsabá de Urias, num engodo que custou a vida daquele péssimo soldado, de propósito colocado na linha de frente, como general, por aquele monarca tão abusado. Aí não pensei duas vezes e o convite aceitei, mandando para a revista o meu primeiro texto, em que uma catequista fugiu com um anabatista. Aí todos os meses eu ia ao banco, sacava alguns contos, recebidos em razão dos meus contos, ia à banca de revistas e comprava um exemplar, onde eu, todo orgulhoso, lia meu texto e valia-me do pretexto para me extasiar com aquela profusão de mulheres que me inspiravam na redação do conto seguinte. Certo dia, todavia, confundi-me completamente, pois mandei o sermão para a redação da revista de mulher pelada e o texto de sacanagem para a pasta de marroquim do cônego. Missa lotada e eu sem me dar conta da distração, eis que o cônego começa a sua peroração: - Como era boa a Madalen... Pausa e todos percebem a sua estupefação ao dar uma passada de olhos naquele sermão, ponteada por ares de satisfação. Entrementes, na revista, meu texto sem qualquer revisão, foi direto para a publicação e só deram pelo engano, quando ela já estava nas bancas. Exonerado do sagrado e do profano e não tendo como prover o meu sustento, escrevi os contos que seguem publicados, na esperança de apurar alguns trocados.
Uma coisa ou outra
 

Um viúvo setentão pediu ao amigo Rei da Soja que lhe ajudasse a achar uma namorada, nova, bonita e gostosa e ele então organizou um jantar, que seria pago pelo interessado em namorar, para o qual convidou um monumento de mulher. Nem bem iniciado o jantar, um vinho Petrus de vinte mil reais foi aberto, seguido das mais caras iguarias. Preocupado, o viúvo pão-duro aproveitou-se da ida da mocinha ao banheiro, e externou sua indignação com o preço da conta que ele iria pagar. E o Rei da Soja o admoestou assim: - Amigo velho, em nossa idade ou é cara ou é coroa!
O que você quer?


As Bolsas 


Eles, engravatados e empertigados, cruzam comigo várias vezes pelos corredores da empresa, mas jamais se dão conta de minha existência, anulada por este horroroso uniforme da limpeza. Para eles eu não existo. Sou, porém, a mesma pessoa que todas as noites, de uns tempos para cá, tem freqüentado os seus macios lençóis, Tudo se modificou quando achei uma Musette novinha. Como não consegui devolvê-la à pessoa que a perdeu, passei a usá-la depois do expediente e logo
 fisguei o próprio chefe da limpeza e ele sequer desconfiou da minha subordinação. Com o dinheiro que me deu comprei uma linda Neverfull e caí nos braços do Gerente Administrativo. Ele, também sem desconfiar de meu cargo na empresa, acabou por me permitir a compra de uma fofíssima Speedy, que me levou à cama do Diretor Geral. Ele, entre outros mimos, deu-me de presente esta caríssima Gypsy. Gypsy foi o meu passaporte à cama do dono da empresa, nosso Big Boss, cujos agrados me garantirão, brevemente, a propriedade do conglomerado Louis Vuitton!
Meus minicontos 


Textos juridicos costumam obrigar os seus escritores a serem prolixos e eu, prestes a me aposentar do cargo de procurador federal - coisa que aconteceu dois atrás - resolvi me arriscar num estilo de escrita mais direto e conciso.
Fã desde jovem dos escritores russos, encontrei neles o remedio contra a verborreia: a arte dos minicontos!
E foi tentando me exercitar nessa arte, que escrevi "Tédio" e mais cerca de cento e vinte minicontos, todos com laivos sensuai
s, eroticos e até mesmo pornográficos, os quais enfeixei num livro de exemplar único, que dei o título de "Como ficar com a mulher do chefe e com o seu consentimento" - um livro de autoajuda para melhorar a relação entre patrões e empregados.
A minha editora Meire, volta e meia quer publicá- los, desde que obviamente eu adeque alguns deles a um estilo menos escancarado. Concordo com ela, mas confesso a minha dificuldade em mexer nos meus próprios escritos.
Assim, a exemplo do que fiz ontem com "Tédio", vou pinçar os mais palatáveis ao ambiente feiciano e os postar aqui. Aguardem!
Republicando 
TÉDIO
+Carlos Mota 



En-jo-ei daquele maldito analista. Vivo uma vidinha insossa, mas ele quer por que quer me provar que eu sou o mais feliz dos homens, só porque tenho este iate de 267 pés, um tamanho descomunal que me faz perder a cada instante em seus decks. Além do mais, casas em Mônaco Ibiza e os malditos apartamentos em Paris e Nova Iorque só me trazem um desejo enorme de me refugiar em minha ilha em Bali e de lá nunca mais sair. Mas, ainda assim ele pensa que sou um boa vida, sem levar em conta que o CEO de minhas empresas me faz perder, a cada mês, longos e entediantes quinze minutos, resumindo para mim calhamaços de relatórios, enquanto meu maitre, a meu lado, quer que eu engula caviar, empurrado goela abaixo por uma taça de Moet Chandon. Meses atrás entrei no ramo do petróleo e, num único dia, com a empresa ainda no papel, vendi quinze bilhões em debêntures. Quando lhe contei, o abusado me considerou um sortudo, mesmo eu provando que fiz um péssimo negócio, pois agora o CEO vai querer me surrupiar, mensalmente, mais alguns minutos. E, para agravar ainda mais a minha depressão, não posso contar com os amigos que tenho, que bem podiam me ajudar. A única coisa que eles fazem por mim – e nisso tenho que lhes ser grato – é a imprescindível ajuda que me dão transando com as minhas amantes. Mas até nisso eles estão ficando relapsos, pois bem aqui sobre esta majestosa cabine, três se refestelam no deck da piscina, loucas para surrupiar as minhas energias, aumentando ainda mais os argumentos do malsinado analista, que insiste em me ter como um bom vivant. Acho que vou prestar concurso de procurador e pular fora desse raio de vidinha!
Vai aí o primeiro verbete do futuro livro
Cagar no mato. Até outro dia uma palavrão ou xingamento, mas que se tornou um imperativo incontornável para os sudestinos de Minas, São Paulo e Rio de Janeiro, é a expressão que os índios se utilizam quando querem convidar parceiros para o sexo (surucucagem, no dizer de Darcy Ribeiro). Um manda o outro ou outra "cagar no mato", minutos depois sai de fininho e vai se encontrar com o parceiro!
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BRASIL, UM PAÍS DO FUTURO
BRASILIEN EIN LAND DER ZUKUNFT
10/02/2015
Stefan Zweig
Prefácio de Alberto Dines
Tradução de Kristina Michahelles
A obra publicada pela primeira vez em 1941 tornou-se rapidamente um clássico. Brasil, um país do futuro é um grande retrato do país sob a ótica de um estrangeiro que passou seus últimos anos de vida no Rio de Janeiro. Stefan Zweig e sua segunda mulher, Lotte, escolheram o Brasil como refúgio às atrocidades que eram cometidas na Europa durante a Segunda Guerra Mundial. Porém, neste período, Zweig não abandonou a escrita. Pelo contrário, foi na casa de Petrópolis que finalizou sua autobiografia (O mundo que eu vi) e escreveu este que, de acordo com Alberto Dines, “é o mais famoso de todos os textos que se escreveram sobre o Brasil”. O jornalista, autor da biografia Morte no paraíso – a tragédia de Stefan Zweig (1981) – livro que narra a fascinante trajetória do escritor austríaco –, e um dos grandes admiradores da obra de Zweig, é responsável pelo prefácio desta edição em formato pocket.
Resultado de uma extensa pesquisa aliada ao olhar crítico de Zweig, Brasil, um país do futuro é uma obra que surpreende os leitores contemporâneos pela riqueza dos temas abordados. De fato, algumas das previsões feitas por Zweig não se concretizaram, mas o livro não se trata apenas disso. Zweig pensa no futuro analisando o que vê e o que sente do contato com o povo brasileiro. No capítulo “Olhar sobre São Paulo”, por exemplo, reflete que “para representar a cidade de São Paulo seria preciso ser um pintor. Para descrever São Paulo, um estatístico ou um economista (...), pois não é o passado ou o presente que tornam São Paulo uma cidade tão fascinante, e sim o seu crescimento e o seu porvir, a rapidez de sua transformação, vistos em câmera lenta.”
Zweig conduz o leitor a passeios pela Bahia, pelo Recife, pelos morros do Rio de Janeiro, observa hábitos da cultura brasileira que se destacam aos olhos estrangeiros, como o simples fato de sempre haver um café fresco para receber um visitante. Além desses dados pitorescos, o autor se aprofunda em uma análise sobre a história e a economia brasileiras, fazendo com que este livro seja, ao mesmo tempo, um documento histórico, uma crônica, um registro de impressões escrito pelas mãos de um célebre autor europeu que se impressionou e se emocionou com o que viu.

Conheça mais sobre o autor em www.casastefanzweig.org
Ainda assim, vale a pena ser brasileiro!

Repercuti aqui uma lista de pecadilhos que nós brasileiros - eu junto - costumamos cometer, uns mais, outros menos. Mas isso não significa desapreço de minha parte para com o nosso povo, pois no outro extremo somos um povo maravilhoso. Li recentemente um livro muito falado e criticado, mas que pouquíssimos brasileiros leram: BRASIL, UM PAÍS DO FUTURO, escrito setenta anos atrás por um grande escritor europeu - STEFAN ZWEIG - que abismado com os horrores da segunda guerra, fruto da intolerância, sobretudo a racial, entre aqueles povos, viu no Brasil um exemplo de convivência pacífica - hoje nem tanto! Acho que todos deviam ler este livro, apesar de seus exageros. No domingo, reli pela quarta ou quinta vez os DIÁRIOS INDIOS do grande Darcy Ribeiro, em cujo exemplar sublinhei traços interessantes de nossa cultura. Conheço países e saio deles sempre com a sensação de que, apesar dos pesares, vale a pena ser brasileiro!
Um grande amigo e colega deputado, hoje ministro de um tribunal superior, conta que em uma de suas campanhas no interior do Nordeste o prefeito, num comicio, assim lhe apresentou aos eleitores: Povo de xxxxxx! Truxe aqui nesta noite o nosso candidato! Ele é gente muito boa e vcs vão gostar muito dele, pois pensem nun cabra corrupto. Ninguem corrupta melhor que ele e sem corruptos o nosso municipio nun rompe em frente! Para o prefeito e aquele povo, corrupto é qualidade, nao defeito!