Continuo pensando besterias
A escrita – assim entendida como
a utilização de símbolos gráficos que representam a linguagem humana – continua
sendo o meio de comunicação que prepondera no mundo virtual. Quando ligamos
nossos desk tops, laptops, smartphones, a maioria deles nos permite “falar” com
a nossa voz, bem assim ouvir a voz dos que estão plugados na rede. Alguns
permitem até que mandemos e recebamos uma fotografia ou uma imagem em movimento(vídeo)
de nós, interlocutores. Mas, mesmo assim, a maioria ainda prefere se comunicar
através de textos que não passam de bilhetes ou cartas das antigas, com a
diferença de que são digitados num teclado ou numa tela e mandados não por um Office-boy,
carteiro ou estafeta, mas por meio eletrônico.
Sabendo-se que a comunicação
humana não se faz apenas através de sons (falados ou escritos), mas também de
gestos, posturas, olhares, cheiros, tato e por aí afora, tem-se que a atual TI
(tecnologia da informação) ainda caminha muito longe de se equiparar à
eficiência de uma conversa travada cara a cara, tète à tète. Daí, mesmo
mandando ou recebendo mensagens de voz ou imagens, temos a necessidade de
turbiná-la com textos, pelos quais tentamos compensar as suas deficiências
conversacionais.
E por mais que essa tecnologia
avance, ela jamais propiciará uma comunicação à distância com o mesmo grau de
eficiência da comunicação feita olhos nos olhos, face a face, a não ser que a
ficção se transforme em realidade e consiga nos teletransportar para junto de
nosso interlocutor ou vice e versa. Mas
nem isso, pois quando estamos em contato pessoal com o outro, o ambiente em que
se dá a conversa é tão importante quanto ela, conversa, em si. Uma coisa é você
discutir em seu próprio terreiro! Daí, o próprio teletransporte de
interlocutores, a não ser que seja capaz de levar junto de você o seu ambiente circundante,
não garantirá a mesma fidedignidade da conversa a dois, tal qual Adão
certamente travava com Eva.
Por que então os homens, dispondo
de um equipamento natural de comunicação interpessoal tão eficiente, insistem
em trocá-lo pelas traquitanas tecnológicas? Por que dispondo de moitas, praias
e até mesmo de camas, comete até mesmo a loucura de querer namorar ou transar,
não numa rede amarrada em duas palmeiras, mas noutra cujas tramas são ondas
eletromagnéticas que hoje inundam o próprio espaço sideral?
Vai a nossa humanidade atual pelo
mesmo caminho dos que, dispondo de pernas para caminhar, acharam pouco e
resolveram trepar na cacunda do outro, depois na dos cavalos, burros, lhamas, elefantes,
mais um pouco mais nas carruagens, canoas, caravelas, selins das bicicletas,
nos bancos dos trens, dos automóveis e nas asas dos aviões, gastando quase todo
o seu labor na manutenção de um sistema viário que em pouco mais de um século
exauriu grande parte dos recursos naturais – e não renováveis – do Planeta
Terra!
Toda essa insanidade tem uma
explicação e ela se liga inexoravelmente a um sistema que só sobrevive com a
exacerbação do consumo: o Capitalismo! Ele é quem hoje dita como dever ser o
ser humano, desde a forma de nascermos, vivermos e morrermos! Ultimamente ele
nos proibiu até mesmo de nascer como nascíamos muitos e muitos milhões de anos
atrás, pois agora isso só pode acontecer em hospitais e ao preço de polpudos
honorários médicos.
E foi também ele que acabou por
nos provar que a comunicação virtual é bem melhor do que a feita cara a cara,
nos obrigando a comprar e renovar, a cada seis meses, caríssimas engenhocas,
que suplantam até mesmo os nossos gastos com os alimentos.
Mas a nossa fissura em possuir
tais equipamentos – fissura que em nós foi introduzida pela publicidade de
massa – não se liga à nossa necessidade de comunicar com alguém. É que a posse
de tais engenhocas funciona como uma espécie de ícone que é posto no lugar de nossa
identidade roubada. Por ele, ser Carlos, Maria ou Joana não representa nada, se
Carlos não está no Face, Maria não tem Twitter e Joana não tem IPade!
Como fomos transformados em
fantoches ou marionetes, os capitalistas nos fazem de gato e sapato e nós,
logo, logo e sem qualquer postura crítica, vamos mandar pro lixo nossos Ipod4,
porque chique mesmo é entrar numa extensa fila, atolar em dívidas e comprar (na
pior das hipóteses, roubar um) o 5, seis meses depois o 6, o 7, pois, graças as
apples e samsungs da vida, sem eles nada somos!