terça-feira, 30 de setembro de 2014

Hoje, não... a água tá muito fria!

Tamara chega perto e, em primeira mão, me informa que o homem que algemou o outro e amarrou em sua cintura bananas de dinamite acaba de se entregar à polícia que, também num espetáculo midiático à parte, toma conta do Setor Hoteleiro Sul, em Brasília.
Sem se descurar de suas tarefas neste solar de tábuas, Tamara, desde as nove da manhã, não tirou os olhos da tevê, coisa que com certeza fez uma china de brasileiros.
Muitos, cruzes, devem estar decepcionados com desfecho tão chinfrim, visto que sem a explosão daquelas dinamites, seguida de fragmentos de paredes e corpos voando sob o azulíssimo céu e calcinante sol deste Detrito Fede ral.
Lamentavelmente é assim, pois os humanos curtem ver tragédias, tanto as reais como aquelas fruto da imaginação dos escrevedores de livros sagrados, peças de teatro, novelas e filmes.
Muitíssimos anos atrás, um cearense trepou numa torre e ameaçou dela pular. O Brasil parou e ficou assistindo aquilo entre chiados e chuviscos de aparelhos de tevê branca e preta. De repente, a multidão começou a gritar "pula"... pula" e o candidato ao suicídio mijou pra trás, deixando todos frustados.
Em Belo Horizonte, vi, com estes olhos que não quero que a terra coma, um pavoroso incêndio lamber um edifício da Rua Rio de Janeiro. Quando chegou a primeira guarnição dos Bombeiros, a vaia foi tanta que o pobre do Cabo Corneteiro sequer conseguiu soprar a sua corneta, atrasando o início da debelação daquelas chamas.
Coisa de quase cem anos atrás, em Minas Novas, Lucas Chagas, meu tio bisavô, chegou de madrugada, mas minha tia Maria não permitiu que ele entrasse em casa. Um pesadíssimo toró inundava a cidade e ele berrou a plenos pulmões que iria descer a rua correndo e se atirar no Ribeirão Bonsucesso que descia furioso e cheio.
Falou e cumpriu e, atrás dele, numa desabalada correria, todos os meus parentes e, enfim, toda Minas Novas. Em poucos minutos, lá estava Lucas trepado no barranco do ribeirão. Ao ver o povo se aproximando, ele pôs o pé na água e disse: Hoje não, a água tá muito fria! Quase levou uma baita surra por não ter levado adiante o seu suicídio!

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