quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Ordis são ordis! Also sprach Mussum Carlos Mota Coelho Seu Olinto (Dorneles Faria), da velha cepa dos fiscais de contribuições previdenciárias, daqueles que consideravam sagrados os dinheiros públicos, era Secretario de Administração do INPS em Minas Gerais e eu o seu subordinado, numa chefia da Coordenação de Pessoal, sob a batuta do competente Seu Onias Prado. Sua preocupação constante era com o desperdício de material de consumo, de clipe às toneladas de café consumidas ao longo do ano. Certa feita, ele cismou de por fim às cópias de chaves, tanto as perdidas ou esquecidas, como as decorrentes das constantes trocas de chefias, numa Superintendência que possuía algo em torno de sete mil servidores e quase a mesma quantidade de portas e gavetas. Para tanto, uma licitação foi feita, e a Coordenação de Serviços Gerais, com direito a inauguração, passou a contar com uma máquina de copiar chaves, para orgulho de seu chefe, José Lopes de Lima. Mas e o funcionário para operá-la? Como chefe de RH, coube a mim a elevada e honrosa incumbência de selecioná-lo, obviamente sem descumprir a lei, na parte em que ela proíbe o desvio de função. Fui ao regimento, li o rol de atribuições de uma ruma de categorias funcionais e achei uma que, ao meu arguto parecer, caia feito luva para se desincumbir daquela ingente atribuição de copiar as malsinadas chaves: Artífice de Mecânica! Consultando os fichários, achei três barnabés, ocupantes daquele cargo tão estranho a um órgão cujo único artifício finalístico era conceder e manter benefícios previdenciários. Submetidos a um treinamento de como operar aquela traquitana, apenas um demonstrou possuir alguma habilidade, o paraibano Genival, que por aquele tempo atuava como estafeta. Nenhum deles, nem mesmo Genival, ficou satisfeito com a nova missão e as chaves, em sua maioria e aparentemente de propósito, não cumpriam o seu ontológico papel de abrir e fechar portas. Não havia dia em que servidores não conseguiam entrar em seus locais de trabalho, outros não conseguiam sair, sem contar as desculpas esfarrapas que muitos davam, culpando gavetas trancadas pela demora no atendimento dos pedidos em geral. Toda essa confusão seguia relativamente tolerável até o dia em que o próprio Seu Olinto e suas secretárias não puderam entrar no amplo e confortável Gabinete da Secretaria de Administração. Eles rodavam a chave feita por Genival, rodavam e nada de o miolo da fechadura abalar. Possesso, Seu Olinto mandou chamar Genival e ordenou: - Você tem cinco segundos pra abrir esta porta, de qualquer jeito, ou terei que o demitir! O corredor apinhando de curiosos e Genival ponderou que cinco segundos era muito pouco tempo. Olinto replicou, elevando à última potência o tom de sua voz, foi quando Genival, forte feito um touro, tomou distância, disparou e deu uma peitada tão violenta na porta do gabinete, que ele, a própria porta, soleiras, portal e pedaços de tijolos e reboco desmoronaram sobre poltronas, birôs, escrivaninhas, máquina de escrever, cabide, arquivos e tudo o mais que ornava aquele suntuoso gabinete. Mais puto ficou Olinto, sobretudo com o estrago feito no carpete que havia sido recentemente trocado, e eu fui incumbido de proceder à sindicância, sem a qual não se podia punir o indigitado Genival. Chamei as testemunhas e todas foram unânimes em afirmar que a ordem de Olinto para Genival era “abrir a porta de qualquer jeito”. Aí não teve jeito, e tive que eximir o Artífice Genival de qualquer laivo de culpa, arcando a Viúva com mais aquele prejuízo. Genival nada mais fez que cumprir a ordem do chefe. Afinal, alegou ele em seu depoimento: Ordis são ordis, assim dizia Mussum! E Seu Olinto,conhecedor e cumpridor das leis e, ainda por cima, dono de um coração que não cabia em seu peito, se conformou e dava suas sonoras gargalhadas ao se lembrar dessa história. Com certeza, lá do Alto ele está morrendo de rir de mim!

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