terça-feira, 18 de setembro de 2012


Continuo pensando besterias


A escrita – assim entendida como a utilização de símbolos gráficos que representam a linguagem humana – continua sendo o meio de comunicação que prepondera no mundo virtual. Quando ligamos nossos desk tops, laptops, smartphones, a maioria deles nos permite “falar” com a nossa voz, bem assim ouvir a voz dos que estão plugados na rede. Alguns permitem até que mandemos e recebamos uma fotografia ou uma imagem em movimento(vídeo) de nós, interlocutores. Mas, mesmo assim, a maioria ainda prefere se comunicar através de textos que não passam de bilhetes ou cartas das antigas, com a diferença de que são digitados num teclado ou numa tela e mandados não por um Office-boy, carteiro ou estafeta, mas por meio eletrônico.


Sabendo-se que a comunicação humana não se faz apenas através de sons (falados ou escritos), mas também de gestos, posturas, olhares, cheiros, tato e por aí afora, tem-se que a atual TI (tecnologia da informação) ainda caminha muito longe de se equiparar à eficiência de uma conversa travada cara a cara, tète à tète. Daí, mesmo mandando ou recebendo mensagens de voz ou imagens, temos a necessidade de turbiná-la com textos, pelos quais tentamos compensar as suas deficiências conversacionais.  


E por mais que essa tecnologia avance, ela jamais propiciará uma comunicação à distância com o mesmo grau de eficiência da comunicação feita olhos nos olhos, face a face, a não ser que a ficção se transforme em realidade e consiga nos teletransportar para junto de nosso interlocutor ou vice e versa.  Mas nem isso, pois quando estamos em contato pessoal com o outro, o ambiente em que se dá a conversa é tão importante quanto ela, conversa, em si. Uma coisa é você discutir em seu próprio terreiro! Daí, o próprio teletransporte de interlocutores, a não ser que seja capaz de levar junto de você o seu ambiente circundante, não garantirá a mesma fidedignidade da conversa a dois, tal qual Adão certamente travava com Eva.


Por que então os homens, dispondo de um equipamento natural de comunicação interpessoal tão eficiente, insistem em trocá-lo pelas traquitanas tecnológicas? Por que dispondo de moitas, praias e até mesmo de camas, comete até mesmo a loucura de querer namorar ou transar, não numa rede amarrada em duas palmeiras, mas noutra cujas tramas são ondas eletromagnéticas que hoje inundam o próprio espaço sideral?


Vai a nossa humanidade atual pelo mesmo caminho dos que, dispondo de pernas para caminhar, acharam pouco e resolveram trepar na cacunda do outro, depois na dos cavalos, burros, lhamas, elefantes, mais um pouco mais nas carruagens, canoas, caravelas, selins das bicicletas, nos bancos dos trens, dos automóveis e nas asas dos aviões, gastando quase todo o seu labor na manutenção de um sistema viário que em pouco mais de um século exauriu grande parte dos recursos naturais – e não renováveis – do Planeta Terra!


Toda essa insanidade tem uma explicação e ela se liga inexoravelmente a um sistema que só sobrevive com a exacerbação do consumo: o Capitalismo! Ele é quem hoje dita como dever ser o ser humano, desde a forma de nascermos, vivermos e morrermos! Ultimamente ele nos proibiu até mesmo de nascer como nascíamos muitos e muitos milhões de anos atrás, pois agora isso só pode acontecer em hospitais e ao preço de polpudos honorários médicos.


E foi também ele que acabou por nos provar que a comunicação virtual é bem melhor do que a feita cara a cara, nos obrigando a comprar e renovar, a cada seis meses, caríssimas engenhocas, que suplantam até mesmo os nossos gastos com os alimentos.


Mas a nossa fissura em possuir tais equipamentos – fissura que em nós foi introduzida pela publicidade de massa – não se liga à nossa necessidade de comunicar com alguém. É que a posse de tais engenhocas funciona como uma espécie de ícone que é posto no lugar de nossa identidade roubada. Por ele, ser Carlos, Maria ou Joana não representa nada, se Carlos não está no Face, Maria não tem Twitter e Joana não tem IPade!


Como fomos transformados em fantoches ou marionetes, os capitalistas nos fazem de gato e sapato e nós, logo, logo e sem qualquer postura crítica, vamos mandar pro lixo nossos Ipod4, porque chique mesmo é entrar numa extensa fila, atolar em dívidas e comprar (na pior das hipóteses, roubar um) o 5, seis meses depois o 6, o 7, pois, graças as apples e samsungs da vida, sem eles nada somos!

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