terça-feira, 30 de setembro de 2014

As Estrelas


Tainá foi o nome dado por Priscila e Alexandre  à sua filhinha. Adorei, pois o nome é lindo, a menina mais linda ainda e ele, na língua Tupi, significa “estrela”. Além disso, horas após o nascimento de nossa estrela, ocorrido às sete e trinta desta manhã de 30 de setembro, eu me dirigia à Cafuringa, quando, de uma moto que seguia à nossa frente, um gaupeiro arriou a viseira de seu capacete e começou a apontar o dedo em direção ao céu. Fernando, nosso motorista, no ato o teve por doido, o que certamente pensaram todos que seguiam atrás, pois neste mundo de hoje o céu nada representa para a humanidade, toda ela com as fuças no chão, em busca de algo que possa saciar o seu vício de possuir coisas. Afinal, nuvens, lua, estrelas, constelações e galáxias não possuem valor agregado algum e não são commodities! Mas eu e Maud, tia de Tainá, fizemos com que ele parasse o carro no acostamento, saltamos dele num pulo, olhamos pro alto e deparamos com uma imagem fantástica: um halo em torno da nossa estrela-rainha, o Sol. E, enquanto centenas de carros passavam em alta velocidade rente a nós, nos extasiamos com a aquela estupenda visão do Sol, rodeado por uma auréola radiante, onde as cores de um arco-íris pareciam dançar uma bem ensaiada coreografia. Fotografamos e filmamos, mas sobretudo exercitamos nossa faculdade de ver aquela maravilha a olho nu, não vestido de lentes, como acontece com a maioria das pessoas, que, ao invés de curtirem as belezas do mundo, preferem se esconder, no ato da maravilha, por trás das objetivas de suas câmaras e tablets.
Mas assim que me reinstalei no carro, lembrei que Sol e Tainá são estrelas e fiz o restante do percurso até a Cafuringa mergulhado em reflexões sobre ambos. Como me meti na Glotologia, ao escrever um arremedo de dicionário, me pus a refletir sobre o que levou os índios a chamar as estrelas de “tainá”, ou os portugueses a chamar tainá de “estrela”, americanos de “star”, gregos de “áster”, híndis de “sitara”, russos de “svezda”, franceses de “étoile”, latinos de “stare”, alemães de “stern”, italianos de “estella” e judeus de “esther”. E foi mentalizando a sonoridade de cada uma dessas palavras que comecei a perceber que todas elas, independente da língua a que pertencem, possuem um traço sonoro comum. É bem verdade que a maioria das línguas aqui citadas pertence a um tronco comum, sobretudo o Latim. Mas “esther”, do hebraico, guarda a mesma sonoridade, assim como “star”, do inglês e “stern” do alemão. De fato, embora de troncos diferentes, esses idiomas são remotamente parentes. Voltando a Tainá, se colocarmos um “s” bem sutil antes do “t”, como que “sibilando” o início da palavra, temos que o mesmo traço sonoro comum aqui tratado se repete. Se toda a humanidade presente possui de fato um ancestral comum, pode-se dizer que  todas as línguas hoje faladas também se encontram num mesmo ponto, num passado remotíssimo, quando o homem passou a se comunicar através de sons. No início o seu “vocabulário” certamente era constituído de poucas palavras, as estritamente necessárias à sua sobrevivência, como água, fogo, comida... Estrela, com certeza também, pois elas eram imprescindíveis como guias em suas andanças pela savana africana. Tão imprescindíveis que a força sonora que nelas foi impressa perpassou por tantas línguas, hoje totalmente afastadas do núcleo sonoro primal.
E Tainá, a menina, descendente, como a maioria de nós brasileiros, de negros, índios, europeus e mais um tantão de outros povos, ganhou um nome que trás em si a marca do entrelaçamento lingüístico, a provar que todos os homens que palmilham o nosso Planeta fazem parte da mesma família, assim como todas as estrelas, independente de suas respectivas galáxias, fazem também!
Viva Tainá!

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