segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Tédio

Em-jo-ei daquele maldito analista. Vivo uma vidinha insossa, mas ele
quer por que quer me provar que eu sou o mais feliz dos homens, só
porque tenho este iate de 267 pés, um tamanho descomunal que me faz
perder a cada instante em seus decks. Além do mais, casas em Mônaco e
Ibiza e os malditos apartamentos em Paris e Nova Iorque só me trazem
um desejo enorme de me refugiar em minha ilha em Bali e de lá nunca
mais sair. Mas, ainda assim ele pensa que sou um boa vida, sem levar
em conta que o CEO de minhas empresas me faz perder, a cada mês,
longos e entediantes quinze minutos, resumindo para mim calhamaços de
relatórios, enquanto meu maitre, a meu lado, quer que eu engula
caviar, empurrado goela abaixo por uma taça de Moet Chandon. Meses
atrás entrei no ramo do petróleo e, num único dia, com a empresa ainda
no papel, vendi quinze bilhões em debêntures. Quando lhe contei, o
abusado me considerou um sortudo, mesmo eu provando que fiz um péssimo
negócio, pois agora o CEO vai querer me surrupiar, mensalmente, mais
alguns minutos. E, para agravar ainda mais a minha depressão, não
posso contar com os amigos que tenho, que bem podiam me ajudar. A
única coisa que eles fazem por mim – e nisso tenho que lhes ser grato
– é a imprescindível ajuda que me dão transando com as minhas amantes.
Mas até nisso eles estão ficando relapsos, pois bem aqui sobre esta
majestosa cabine, três se refestelam no deck da piscina, loucas para
surrupiar as minhas energias, aumentando ainda mais os argumentos do
malsinado analista, que insiste em me ter como um bom vivant. Acho que
vou prestar concurso de procurador e pular fora desse raio de vidinha!

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