sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Falta de assunto


Viver permanentemente atado à normalidade é a mais acintosa forma de loucura. E é porque penso assim que eu próprio provoco em mim, diariamente, pequenos curto-circuitos ou até mesmo verdadeiros surtos de doidices. Por muito tempo tive que fazer isso escondido, sob pena de ser aposentado por invalidez ou de algum suplente me abiscoitar o mandato de deputado federal.
Costumo fazer o que me vem à telha e mudo de opinião ao sabor do vento. De uns dias pra cá, por exemplo, virei monarquista, coisa que para mim não é muito difícil, pois fui Rei do Rosário, vice-presidente-Rei da Justiça Divina, votei pela monarquia no plebiscito de 1993, tenho um grande amigo que o é, o Dr. Roberto Nobre Mader Machado e apoio as iniciativas do Instituto Dona Isabel II (para os comuns dos mortais, a Princesa Isabel, A Redentora). Além do mais, no 7 passado, apartei a Cafuringa do Brasil e ontem, pela força de meu pensamento, impedi que o Reino Unido perdesse a minha amada e diariamente bebida Escócia.
Volta e meia, amigos à beirinha de um ataque cardíaco fulminante, largam os seus cativeiros e pedem asilo aqui na Cafuringa, onde lhes ministramos doses de líquidos espritantes, misturadas a conversas hilárias e delirantes. Com poucas horas, as suas fisionomias mudam, o corpo relaxa e seus neurônios, poluídos por operações bancárias, credores à porta, clientes chatos, implantes de próteses dentárias, penianas também, passam a se ocupar da trajetória, das cores e dos cantos dos passarinhos, da graciosidade do nadar dos peixes, do multicolorido das flores e, sobretudo, do verde que nos cerca aqui na Cafuringa.
E por falar em verde, me afeiçoei tanto a ele, que o aro dos meus óculos, a capinha do celular, o meu isqueiro, todos são verdes. Na minha fase careta, eu estava sempre metido em ternos pretos, até que me libertei desta anti-cor e comprei uma calça verde, pra espanto dos amigos que me viram aportar em plena Brasília que nem um periquito australiano, com um chapeuzinho com uma tira verde à cabeça! Quase que me espantaram da mesa do restaurante, à vista de indumentária quão parangolística.
Como logo mais à noite vou me encontrar com eles - e para que eu não corra o risco de ser barrado na porta do restaurante - comprei anteontem indumentária de outra cor, a mesma azul-calcinha que a presidenta Dilma vem usando em suas aparições no horário político. Afinal, como ando neutro nestas eleições, persistir no verde pode levar alguém a supor que estou apoiando a verde Marina! Como não uso branco, não há como alguém achar que estou apoiando o Aécio!
Com certeza, após uma semana de pesado batente, vou me encontrar com eles na tábua da beirada, mas amanhã, sem falta, eles estarão aqui na Cafuringa, recarregando as suas cacholas com as minhas providenciais maluquices.

Carlos Mota, Duque de Edimburro, teclando diretamente do Palácio de Bugigangas, sede do Reino da Cafuringa.

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