Conto 3
A Navalha
A Navalha
Que mulher tarada, aquela,
a do barbeiro! Ela simplesmente me encurralou entre a copa e a cozinha e ali
tentou me seduzir impiedosamente, enquanto o seu digníssimo marido aguardava o
meu retorno do banheiro. Tentando me refazer do susto, voltei naturalmente à
cadeira e ele, calma e pacientemente, atou em meu pescoço as tiras da toalha,
ajustou o suporte de cabeça e pincelou suavemente o meu rosto com a espuma de
barbear. À meia distância, pelas costas do sujeito, a maldita mulher mandava-me beijos e mais beijos, mas
assim que ele levantava as vistas, amolando aquela afiada navalha, ela,
refletida no espelho, tomava uma postura de sonsa e santa. Trazia comigo um
livro do Gogol e o lia justo na parte em que é cortado o nariz do assessor do
juiz do colegiado eleitoral. Mas de repente, senti que o roçar de sua navalha
sobre o meu pescoço era cada vez mais firme e forte. E ele balbuciava palavras
como safada e sem-vergonha, enquanto a afiada Solinger cortava-me feito foice.
No que ele virou para limpar o pincel, eu me mandei a tempo de escutar ele
dizer: - Cadê o desgraçado? e ela responder: - Foi-se!
Nenhum comentário:
Postar um comentário