segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

Se inteiramente só e abandonado numa  ilha deserta, a mim me bastaria um dicionário, quiçá algumas centenas de caixa de red e eu certamente não seria tomado pelo tédio. Tenho vários e, ao menos uma vez por dia, os leio prazerosamente, pulando aleatoriamente de página em página, verbete em verbete. Raramente principio a minha viagem com alguma ideia na cabeça, pois ajo feito um andarilho zanzando a esmo. Só paro quando me empanturro de tantas palavras, que lentamente vou ruminando no decorrer do dia, as excretando, ejetando, evacuando, ejaculando, estravasando, refugando, parindo, vomitando, mijando ou cagando em prosa ou verso.
Em 2012, adquiri um tesouro editado pela Lexikon, o Dicionário Analógico da Língua Portuguesa – ideias afins/theasaurus, do professor Francisco Ferreira dos Santos Azevedo, cuja segunda edição só veio a lume sessenta anos depois da primeira, numa prova de quão alérgicos à cultura somos.
A segunda edição é apresentada por um senhor de nome Francisco Buarque de Hollanda, que, desde menino, eu sabia compositor de cantigas, as mais belas e inspiradas, também escritor, mas que, nem de longe, eu imaginava portador da mesma doença que me acomete: o gosto por dicionários!
Chico herdou, adquiriu, auferiu, ganhou, obteve, capturou, catou, coletou, logrou, arranjou, conseguiu, recebeu o tal dicionário do senhor, seu pai Aurélio Buarque de Hollanda e revela em sua saborosa apresentação que muitas das canções que compôs brotaram do velho livro do professor Ferreira.

Vale a pena ter um em casa!

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